Page 29 - Da Terra
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No dia seguinte perguntavam-lhe e ele dizia:


 - Não posso abusar na pinga e como já era tarde, acabei por sair e ir para casa.


 A cena foi-se repe ndo sempre que o capataz fazia tal oferta. Só que um dia, ou o Zé do Burro
 bebeu mais copos do que  o costume, ou ficou demasiado tempo na adega, o que é certo é
 que saiu de lá e logo caiu de bêbado meia dúzia de metros à frente. Quando os homens

 saíram da adega deram com o Zé do Burro naquele estado e  veram de o levar até casa.

 No dia seguinte, tendo o Zé do Burro sido apanhado, lá confessou o seu estratagema. Ele

 bebia mais do que todos e logo a seguir saía apressado para que es vesse em casa seguro
 quando a pinga fizesse efeito.

 Mas  isto  foi  no  tempo  em  que  não  havia  eletricidade.  Quando  finalmente  chegou  a

 eletricidade ao local, Zé do Burro  teve outra situação caricata. Saiu ele da adega bem bêbado
 e foi para casa. Mas, no caminho, Zé do Burro sen u uma sombra atrás de si… começou a

 andar mais depressa. E quando passou o candeeiro, a sombra apareceu-lhe lá a frente.
 E ele:




 OH, ALMA PENADA. O QUÊ?


 JÁ ESTÁS AQUI À MINHA ESPERA?


 Então ele voltou para trás. Mas logo reparou que a sombra lá

 estava atrás outra vez à espera dele. E assim andou para lá e
 para cá um bom bocado até os colegas o irem buscar.


 ‘’É assim…bebem, bebem até perder o  no e depois

 dizem que as almas penadas lhes aparecem…’’



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